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Série Missão Pará - Missão: não tem como ir para uma e voltar igual!

Relato de uma jornalista não vicentina

Escrito por Marina Prado

14 AGO 2025 - 18H00 (Atualizada em 14 AGO 2025 - 19H15)

Há mais de cinco anos trabalhando como jornalista do Conselho Nacional do Brasil e sem ser vicentina, nunca tinha participado de uma Missão. Quando pedi para integrar uma ao meu Coordenador de Decom, o Allan, foi com o objetivo de conseguir traduzir em palavras a emoção real de quem a vive! Sempre fiz meus textos baseada nos depoimentos de terceiros e, toda vez, ficava na dúvida se a essência estava captada nas linhas que eu escrevia.

Até que o Allan veio um dia e me disse: “Marina, sua viagem está aprovada e você vai para o Pará durante o feriado de Corpus Christi”. Como pessoa ansiosa que sou, em março já estava pensando no que colocar na mala, no que iria sentir. Fui para o Pará para conseguir colocar em texto a emoção da vivência da Missão da maneira mais fiel possível. Passados quatro dias em terras paraenses, de volta à minha casa, não sei se tenho condições de colocar tantos sentimentos em palavras, tamanha a intensidade vivida por lá. Mas prometo, meu caro leitor, que vou tentar.

A ida

Cheia de expectativas, arrumei uma mala de mão e uma mochila com todo o cuidado, e sem noção real do que seria necessário de verdade (muitas roupas voltaram sem sequer serem desdobradas). Um dia antes de viajar, em minha sessão semanal de terapia, comentei: “algo me diz que estou indo para um feriado divisor de águas!”

Embarquei, no dia 18 de junho, de Campinas, no interior de São Paulo, para Belém, a capital do Pará. O choque de realidade já se fez presente no processo de pouso do avião. A relação dos paraenses com a água é profunda, ancestral e cotidiana. No Pará, a água não é apenas um recurso natural — é parte da identidade cultural, econômica e espiritual do povo. E foi a água a primeira coisa que eu avistei nas terras paraenses lá de cima do avião! Em plena noite, já dava para se encantar com a vista da Baía de Guajará. Eis que o piloto anuncia: “começamos o processo de pouso, em Belém 20h30 e 26 °C”. Como? Estávamos às portas do inverno e o Pará nos trazia, em plena noite, a temperatura de um dia de sol no Sudeste!


O tal carisma

Não vou discorrer muito sobre meu encantamento com o que vi na cidade, com os aromas, com as cores, com as belezas naturais, pois creio que isso pode ser facilmente achado. Muito menos, vou escrever sobre os contrastes econômicos. Vou tentar expressar o que vi de um povo acolhedor, que ama um abraço, que faz a gente se sentir amado e especial desde o momento que te fala oi, cheio de fé e apaixonado pela SSVP. Um povo que faz esse amor transbordar em pequenas atitudes e em grandes sonhos.

Eu sempre digo aos vicentinos que o carisma vicentino é “completamente fora da curva para a sociedade comum”. Eu brinco com eles que, para nós, “de fora”, essa doação ao próximo em nível extremo, que para eles é tão natural e passa despercebida no dia a dia, é algo extremamente incomum.

Afinal, não consigo achar rotineiro alguém abrir mão do próprio quarto para receber cinco “desconhecidos”, como fizeram dona Silvana e seu Estélio, que, na noite da nossa chegada, “mudaram-se” para um quarto menor, sem seu banheiro, deixando o deles para melhor nos acomodar. Além disso, nos esperaram com uma janta carinhosamente feita por seu Estélio e, no dia seguinte, um café delícia, com tapioca e bolo de milho! Carinho puro! Amor em forma de ação! 


A ficha caiu

Ali, logo na primeira noite, eu já comecei a entender realmente o espírito da coisa. Não era uma viagem comum de trabalho, era uma viagem de entrega.

Eu estava preparada para as diferenças culturais, para o calor, para as horas intensas de atividade, para dormir sem o conforto da minha casa, para me despir das vaidades, para tomar banho gelado (coisa que odeio, mas que lá não fez a menor diferença), mas, por mais que eu tivesse uma ideia, não estava preparada para a grandeza espiritual e emocional do que iria me encontrar nos próximos quatro dias!

Sempre sou e fui extremamente acolhida em todos os eventos que participo fazendo a cobertura pelo Conselho Nacional do Brasil. Muitas pessoas sequer sabem que não sou vicentina. Mas ali, não sei explicar a diferença. Não foi na receptividade, não foi no olhar, talvez tenha sido no modo como me permitiram entrar de cabeça realmente na missão e ser efetivamente uma integrante no processo. E eu fui!

De carro alugado, comecei a percorrer algumas frentes da Missão. Primeira parada: Mãe do Rio, uma cidade a 170 km de Belém. Mais de três horas de viagem em estradas de pista única, alguns motoristas imprudentes, asfalto até que melhor que muitas rodovias vicinais do estado de São Paulo. Uma vista que deslumbrou a mim e à minha copilota Letícia. Ela ia me narrando a vista do lado dela: coqueiros de tipos variados, alguns com samambaias em seus troncos, igarapés, uma terra que “do nada” ficou vermelha! E eu, olho firme na estrada!

Enfim chegamos e fomos recebidos pelo carinho sem limites dos vicentinos da cidade, que nos esperavam no lado de fora da casa, cantando “sejam bem-vindos” enquanto estacionávamos os carros! Dali para frente, só emoção! Pura emoção!

Se eu for narrar e descrever cada dia dessa Missão, vamos ficar aqui por muito tempo e você, com certeza, não vai chegar ao final deste texto. Então, vou dividi-lo em duas partes que arrebataram o meu coração de jornalista, mulher emotiva e embasbacada com o tamanho de tudo aquilo e os sentimentos despertados: os milagres da Missão e o meu top five!



Os milagres da Missão

Vou resumir apenas três histórias que eu vivenciei no Pará, todos “consumadas” no domingo, último dia da Missão. Certamente existem tantas outras que os missionários podem contar, mas como o objetivo aqui era eu vivenciar para escrever, aí vão meus três pequenos milagres em quatro dias! (Sem contar os milagres de transformação pessoal, que esses ficam para uma próxima ocasião.)

Ao chegar em Mãe do Rio, na sexta-feira, encontrei a Arlene, orientadora da antiga CCA da cidade que fechou depois da pandemia. Conversando, ela me falou: “Marina, se a CCA reabrir aqui já é um milagre.” Fui embora e lá ficaram quatro super missionários: David, Letícia, Junior e padre Hugo. Como me apego fácil, fui sabendo deles como as coisas corriam por lá nos dias seguintes, até que no domingo, no grupo de WhatsApp vem o David e fala: “CCA criada em Mãe do Rio!” Chorei que nem criança e agradeci a Deus por ter vivenciado aquele pequeno milagre sonhado por Arlene se realizar!


CCA de Mãe do Rio será reativada, com as Consócias Janet e Arlene como orientadoras


Ainda no domingo, fui bater um papo com o padre Régis, da Paróquia Imaculada Conceição, em Belém, onde fiquei alojada. Ele, que é da Congregação da Missão, me contou que o sonho dele era ter uma Conferência na Paróquia. Passadas nem duas horas da nossa conversa, depois da ação de recrutamento (que acontecia enquanto nós conversávamos), ouvi uma gritaria e aplausos no andar de cima. Subi correndo para a sala de recrutamento pensando “perdi uma foto boa”. Cheguei lá e fui apresentada à nova CCA e à nova Conferência. Logo em seguida, o padre subiu e eu contei para os presentes qual era o sonho dele e pedi que eles contassem o que tinha acabado de acontecer ali. Incrédulo e feliz demais, ao saber das duas novas Conferências, o salão virou festa com a alegria do padre Régis! Ah, olha a jornalista chorando de novo e agradecendo o segundo pequeno milagre!


O terceiro começou logo que acordei. Olhei para a Renata, integrante do Departamento Missionário do CNB, e falei: “Rê, quero fazer uma matéria sobre a visão dos missionários, contando a experiência do mais velho deles (segunda matéria desta série). O mais velho é o seu Antônio que está aqui com a gente?” Ao receber o sim dela, corri falar com ele depois do café da manhã. Ele me contou que, com 68 anos, já perdeu as contas do número de missões que fez e que deixava o cansaço de lado e queria ajudar a SSVP crescer muito no estado, que estava ali para tocar a vida das pessoas com o carisma vicentino. Algumas horas depois, quando a Conferência da Paróquia Imaculada Conceição se formou, eu perguntei quem queria me dar um depoimento sobre o porquê participar. Daí apareceu Lúcia, me contando que acompanhou seu Antônio nas visitas e viu, na prática, o quão lindo era o carisma dele e que queria um pouquinho disso para ela. Seu Antônio, que queria tocar um coração, o fez, sem perceber, através de suas ações e não apenas pelas palavras. Ah... mais choro e agradecimentos!


Seu Antônio tocou o coração de Lucia, que disse SIM à SSVP


Podem parecer coisinhas bobas ou até mesmo corriqueiras para os tais missionários vicentinos, mas para mim, que estou de fora, e sempre espero o milagre na proporção da água virar vinho, foi um verdadeiro aprendizado. Milagre não precisa ser grande para ser milagre!

Meus top 5 de lições e emoções

5. Quase 60 pessoas deixaram suas casas, suas famílias, seu descanso, seus afazeres em pleno feriadão prolongado, duas delas inclusive seus aniversários, para servir ao próximo por um único e singular motivo: AMOR! Num mundo onde as experiências interpessoais estão cada vez mais raras, onde o EU prevalece no lugar do NÓS, lá estavam essas pessoas que demoraram horas e até dias para chegar no Pará para revitalizar a SSVP. E ouvir parte delas, suas histórias, suas vivências é uma lição de vida para qualquer ser humano! Vontade de fazer um documentário: As faces da SSVP (fica a dica, Decom)!


Quase 60 missionários reunidos por amor à SSVP


4. Ver a paixão dos vicentinos do Pará que não querem que a SSVP morra naquele estado e que, apesar da idade, não medem esforços para isso: Como esquecer do abraço caloroso e do sorriso farto da dona Justina, lá de Mãe do Rio, na hora em que me conheceu. Fiquei ali naquele abraço por um bom tempo, tentando entender se quem precisava mais era eu ou ela! Ela, esperançosa nos missionários; eu, na humanidade! Com ela, e o grupo que nos recebeu lá, passei um dia apenas, mas que dia! Brinquei, ganhei carinho, ouvi histórias (o que toda jornalista gosta), me reenergizei na vitalidade dela! Nos sentimos tão em casa que, depois do almoço, deitamos no chão para descansar e nos refrescarmos! Entendi logo de cara, lá em Mãe do Rio, a máxima que os vicentinos sempre falam e que comprovei em tantos outros momentos depois: a gente vai para uma visita achando que vai ajudar ou ensinar algo, e quem é ajudado e aprende somos nós! Obrigada, Mãe do Rio e dona Justina (que, por sinal, tem uma neta com o nome mais lindo do mundo, o que talvez explique nossa ligação imediata. Alguém adivinha?)!


3. Ver o carinho dos vicentinos locais com os missionários, como o Geraldo que virou nosso guia no aculturamento; a comunidade da Paróquia Imaculada Conceição, em Belém, que nos preparou uma festa típica, com tacacá, maniçoba, vatapá e apresentações de carimbó. (E, como disseram que era para se despir de preconceitos e mergulhar na realidade local, tive que experimentar tudo, colocar uma saia típica e sair pelo salão arrastando o pé e rodopiando, achando que estava arrasando no carimbó!) Ou ainda como no caso da dona Maria Gildete, de 70 anos, uma bordadeira de mão cheia, que foi crochetar as toalhinhas para os missionários secarem as mãos, pois as suas “estavam velhinhas” e, apesar de “não conhecer os missionários, amo eles de todo o coração”. (Sorte que eu não estava presente, só recebi o vídeo dela contando, senão a dona Maria já teria ganhado um monte de beijo.)


2. Ver de perto a fé do povo do Pará na Nazinha, nome pelo qual chamam Nossa Senhora de Nazaré! Gente, poucas vezes vi uma devoção tão grande e igrejas tão cheias nas missas, independentemente do dia e do horário!

1. Ver a diferença que o trabalho vicentino faz na vida dos Pobres de Belém. Quando saí daqui, fiz um pedido ao Departamento Missionário:  quero ir a uma área bem pobre, diferente da nossa realidade, onde os vicentinos atuam. E fui. Me mandaram para Barra das Garças, uma comunidade ribeirinha, e visitei o seu João, morador de uma palafita, assistido da SSVP, que me recebeu com o maior amor e me contou, com toda sua simplicidade, a história da sua vida (essa matéria vai ser publicada ainda). Ali, num cenário tão estranho aos olhos de tantas regiões do país, numa vida com tão pouco, ele sorriu o tempo inteiro e me deu uma lição de vida — daquelas que começa com um tapa na cara e termina com um abraço afetuoso!


Esse é um breve resumo de uma não vicentina, apaixonada pela causa, que se propôs a viver intensamente quatro dias de Missão no Norte do país, que se entregou, chorou, orou, andou, riu, fez amigos, se encantou, dançou, foi tocada e, certamente, transformada!

Enfim, para escrever e entender a Missão é preciso vivê-la, mergulhar fundo, permitir-se, entregar-se a cada momento (incluindo o choro e a exaustão), desapegar-se de você mesmo, despir-se de toda e qualquer vaidade e conceito pré-existente. Para entender sua magnitude, é necessário estar disposto, durante aqueles poucos dias, a dar um reset de você em nome do outro!

E, de coração, nas minhas palavras e na minha experiência:

Missão: não tem como ir para uma e voltar igual!


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