Psicólogo dá dicas sobre o que fazer nas visitas a enlutados

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FINADOS. Os primeiros vestígios de uma comemoração coletiva de todos os fiéis defuntos são encontrados em Sevilha (Espanha), no séc. VII, e em Fulda (Alemanha), no séc. IX. O verdadeiro fundador da festa, porém, é Santo Odilon, abade de Cluny (França)

As visitas a uma pessoa que perdeu um ente querido vêm sempre acompanhadas de frases a exemplo de ‘não chore’ ou ‘ele (a) ia ficar muito triste se te visse assim’. Quem diz tem o objetivo inicial de confortar, no entanto, estas não são as melhores palavras de apoio ao enlutado, explica o psicólogo Fernando Fernandes. “A intenção é sempre boa, mas aquele que fala ‘não chora’ está dizendo da própria dificuldade de tolerância à dor. Não toleramos ver o outro sofrendo, porque a dor do outro também nos dói”.

Fernando, que é capacitado em Tanatologia, especialista em Gestalt-terapia, e Análise Existencial, e presta apoio a enlutados na Funerária Metropax em Belo Horizonte (empresa que atendeu as vítimas de Brumadinho-MG), diz que em vez de invalidar a dor do outro, o procedimento correto é legitimá-la. “No lugar do ‘não chore’, diga: ‘eu fico aqui imaginando o quanto está te doendo’. Esta é uma das formas de compreender e validar o sofrimento da outra pessoa, sem julgá-la”.

O psicólogo Fernando Fernandes presta apoio a pessoas enlutadas em Belo Horizonte (MG)

Os vicentinos realizam semanalmente visitas às pessoas que sofrem, principalmente pela pobreza material. E, nesse contato, é muito comum encontrar famílias enlutadas. Ao se depararem com tal situação, veem os questionamentos: o que fazer? O que dizer? Como ajudar? O psicólogo responde às perguntas, por meio de cinco dicas:

  1. Escute mais que fale. Dê espaço para que o enlutado possa desabafar e descrever o que sente;
  2. Verifique questões práticas do cotidiano, como por exemplo, se o enlutado tem se alimentado, dormido bem, saído… Caso contrário, aconselhe-o a procurar a ajuda de um psicólogo ou psiquiatra. Não ter ânimo é o esperado, mas se a falta de ânimo passa a ser uma rotina, torna-se preocupante;
  3. Tente compreender o sofrimento. O visitante pode articular perguntas: como está sendo para você diante desta perda? O esperado é que o enlutado continue dando seguimento na vida dele. Algumas pessoas vão se agarrar à fé, outras ao trabalho e até mesmo à própria depressão. Se for à depressão, aconselhe a busca por ajuda profissional;
  4. Encontre com a pessoa algo que ainda faça sentido de vida para ela, por exemplo, um tricô ou o esporte. Algo que a faça se sentir viva. Tente fomentar nela, ainda que não tenha vontade;
  5. Incentive uma mudança de rotina. Por exemplo, se a mãe costumava esperar o filho que morreu com um café às 14h, aconselhe que ela faça uma atividade diferente neste horário. Quando se muda a rotina, abre-se a possibilidade de vivenciar novas experiências que poderão auxiliar no processo de ressignificação do sofrimento/dor

PRAZO DO LUTO

O luto não é igual a um produto que tem data de início e prazo de validade. Fernando explica que o período é subjetivo, cada pessoa levará um tempo diferenciado para vivê-lo.

Há casos de pacientes que fecham o ciclo do luto em 9 meses e outros em 2 anos. O importante é observar se o sentimento não pode desencadear uma depressão, gerando assim uma ruptura na continuidade da vida.

Segundo a psiquiatra norte-americana Elisabeth Kübler-ross, o luto é dividido em cinco fases:

  • Negação (quando o enlutado se nega a acreditar que está vivendo aquela situação)
  • Raiva (geralmente vem acompanhada pelo sentimento de culpa e de frases do gênero ‘e se eu tivesse feito isso…’)
  • Barganha (quando o enlutado tenta encontrar algo que diminua a dor ou possibilite a fuga dela. Esta é uma fase delicada, pois acontece, por exemplo, de pessoas buscarem refúgio em bebidas e drogas)
  • Depressão (estado de tristeza profunda e constante)
  • Aceitação (não é concórdia, mas a capacidade de entender a morte e de que não é possível fazer nada para revertê-la)

MANIFESTAÇÃO DA DOR

Diante de uma morte, muitas pessoas choram; passam mal; outras silenciam. Qual delas sente mais dor? “Nenhuma”, responde Fernando. “Não tem como mensurar o sofrimento de um ou de outro. A dor da perda vem na mesma proporção do amor vivido naquela relação. O que eu tenho a dizer para quem faz visitas é: respeite todas as formas de manifestação de dor”.

FINADOS

Em datas celebrativas, a exemplo do Dia de Finados, é comum o enlutado se sentir mais sensível. Para o psicólogo, o ideal é que ele viva o luto. “É importante tirar um tempo para se permitir sentir a perda. A melhor forma de superar o luto é viver o luto. Se você não vive o luto, você vive de luto”.

 

Fonte: Redação do SSVPBRASIL

 

 

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