“Dia das Mães é todo dia”

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Quando pensamos em mãe, pensamos em ternura, amor incondicional, luta, família! E como esse pensamento está certo! Para homenagear nossas mães da Sociedade de São Vicente de Paulo, vamos contar a história da ex-assistida Lígia Mara Machado, de 59 anos, da cidade de Cambé, no Paraná.

No final da década de 80, em 1987 mais precisamente, ela se tornou mãe solo de seu único filho, o Fauzio. Juntos, descobriram o significado da palavra maternidade. “Eu brinco que fui abençoada e |Deus me mandou ele pronto. Aos três anos, estávamos em uma viagem na praia e ele me pediu para tomar banho sozinho. Eu não queria e disse que se ele tomasse banho sozinho naquele dia, faria isso todos os dias a partir dali. Uma tentativa em vão de fazer ele desistir. Ele não só tomou banho sozinho naquele dia, como em todos os dias que se seguiram”, relembra.

A criação de Fauzio foi cheia de desafios, como se imagina que seja para uma mãe solo. Mas não é disso que falaremos hoje. “Nos anos 80, a sociedade era outra. Eu sempre fui muito mais amiga dele do que aquele esteriótipo de mãe antiga. Ele sempre foi muito presente e sempre cuidou de mim, o que faz até hoje, mesmo que em outra cidade. Ele sempre foi muito organizado e eu nem tanto, Quando era mais novo me chamava de Ligia. Ele arrumava os armários de roupa e ralhava comigo, porque eu pegava sempre a última peça da pilha, derrubando as demais. O armário dele era impecável, arrumado por cores. Isso é dele, porque não fui eu quem ensinou. Ao contrário, ele sempre me ensinou muito”, conta.

Ligia sempre se virou para criar Fauzio e, como mãe e pai, trabalhava fora, cuidava do filho e da casa. Uma tripla jornada. “Eu era vendedora, depois que ele cresceu, passou a ter uma banda e eu virei empresária. Então, nossa relação se estreitou ainda mais, pois, além de mãe, trabalhava com ele, inclusive nas viagens e apresentações. Brinco que trabalhava o dia inteiro, chegava em casa, tirava a roupa de mulher maravilha e colocava a de dona de casa. E assim fomos, até 2010”.

Em fevereiro de 2010, a banda de Fauzio fazia sucesso na região. Já tinha seu próprio ônibus, equipamentos modernos e uma boa agenda de shows, administrada por Ligia. “Estávamos fazendo o carnaval e a apresentação da matinê já tinha acontecido. Tinhamos um intervalo de duas horas para ir ao hotel tomar um banho e voltar para a apresentação noturna. Mas uma chuva começou e em pouco tempo virou um temporal. Eu tinha acabado de comprar equipamentos novos para banda e fui ao palco com o pessoal do som para retirar os equipamentos. Ouvi um estalo, olhei em volta, estava tudo normal. Fui retirar o último equipamento e quando coloquei tudo no case, ouvi outro estalo, quando olhei para cima, vi o teto desabando. Me protegi como deu, mas tive achatamento das vértebras, o que me deixou em uma cadeira de rodas”, recorda.

A vida de Ligia mudou por completo naquele minuto. Ela, que havia praticado atletismo durante a juventude, jogado handebol por sua cidade, se viu presa em uma cadeira. “Mais uma vez, o Fauzio cuidou de mim. Esteve ao meu lado a cada minuto. Vendeu ônibus, equipamentos e tudo mais o que tinha para bancar meus tratamentos e tentar fazer eu sentir menos dores. Ele, que estava consolidando uma carreira com sua banda, mudou tudo. Seguiu na música e hoje trabalha como krunner e toca ao lado de sua companheira”.

Mas onde entra a SSVP nisso, você deve estar se perguntando. Saltaremos 10 anos nessa história.

Lígia seguia sem trabalhar, por conta do acidente, sobrevivendo com a ajuda do filho e com benefício do governo. “O dinheiro nunca dava, era sempre muito gasto com remédio, saúde e as despesas normais. Um dia, uma grande amiga da família, que me chama de tia por consideração e era assistida da SSVP veio me ver e estava desesperada. Ela tinha participado de um Projeto Social dos Vicentinos custeado pelo Conselho Nacional do Brasil, para apender a fazer amigurumi (técnica japonesa que mistura crochê e tricot para confecção de artesanatos, como bonecos, chaveiros, terços, entre outros), e estava com uma encomenda enorme. Ela chegou falando que não ia conseguir entregar. Ela teve câncer e estava debilitada. E eu conversando com ela, perguntei o que era esse tal amigurumi. Ela me mostrou uma foto e eu disse: ah, é crochê. E ela me explicou a diferença. Fiquei com aquilo na cabeça. Minha mãe me ensinou o crochê quando eu ainda era pequena e praticava atletismo. Usava o crochê para extravasar. Então, achei minhas agulhas, peguei uma linha velha e fiz corujinhas em tamanhos diferentes, que eram os bichinhos da encomenda. Ficou feio, mas queria mostrar para ela que era possível fazer. Quando contei e mostrei para Andreia, ela ficou muito entusiasmada e me convidou para começar a ajudá-la. Ela me mostrou o que aprendeu no curso custeado pelos vicentinos e começamos. Ou seja, o projeto foi para ela e depois para mim. Com o passar do tempo, o tratamento dela foi intensificando e ela começou a passar as encomendas dos amigurumis para mim”, detalha Ligia.

Os vicentinos entraram definitivamente em sua vida em 2022. “Era o dia do casamento da Andreia e eu estava com uma encomenda grande. Ela, então, sugeriu de eu pedir ajuda aos vicentinos. E eles vieram. Me ajudaram por muito tempo com a cesta básica, a mistura. E fizeram mais. Me inscreveram num projeto social do CNB para eu receber o material para fazer as encomendas. Enquanto eu esperava a definição se o projeto ia ou não acontecer e apareceu outra encomenda grande. De um presépio. Amigos me ajudaram com a primeira compra de linhas, mas eu não tinha como continuar. Foi quando, mais uma vez, os vicentinos me ajudaram. Me adiantaram crédito para eu comprar as linhas e descontar futuramente do projeto. Hoje, eu não preciso mais da cesta, mas sei o quão importante foram os vicentinos na minha vida e na vida dela. O ano passado não foi fácil, muitos gastos e a venda dos amigurumis me ajudou muito. Não consigo sair de casa, por causa da minha mobilidade, mas as encomendas sempre chegam. Já mandei produto até para o Japão”, conta agradecida.

Pela primeira vez em mais de 30 anos, neste Dia das Mães, Lígia, não terá a companhia do único filho. Ela está em Cambé e ele, em Procópio Ferreira. Mas quem pensa que isso a desanima, se engana. “Dia das Mães é todo dia. É um trabalho diário, que não tem férias e nem feriado, mas é o que mais vale a pena. O segundo domingo de maio é simbólico, mas devemos celebrar todo dia”, finaliza ela, na certeza de que no próximo final de semana irá se encontrar com o filho Fauzio, a quem chama de filhotinho: “e olha que ele tem 2 metros de altura”, diverte-se!

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